About Me

13 November, 2008

Num destes dias, enqunato seguia atentamente tanta desgraça que era noticiada na TVI logo pela manhã, pensei comigo: "bolas, uma miúda nova a apresentar o telejornal.... Se calhar acabou de sair da faculdade, arranjou uma cunha e Óh que maravilha, um lugarzinho à espera! Bolas, quem me dera ter factor "C" para estar a fazer o mesmo que ela, ou pelo menos por perto!". E desliguei a TV acreditando de facto que a iria ver ainda muitas vezes na "caixinha que mudou o mundo".
Há dias recebi a notícia através de uma revista que estava no quiosque da D. Lena, que aquela jovem pivot da TVI, de 28 aninhos, que tão poucas vezes tive a oportunidade de seguir na televisão, morreu. Causa: leucemia.
... e fico com a sensação de poder ter sido muito injusta nas minhas divagações.

Já lá vão alguns meses, estava eu aqui na rádio e o engenheiro, que de vez em quando aparecia por cá, aproveitou um intervalo do seu trabalho para fumar o seu "belo" cigarro lá fora - ele estava sempre a fumar! Fui cumprimentá-lo e fiquei um pouco a conversar com ele sobre emissores, rádios piratas dos anos 80,... enfim sobre a sua paixão pelos cabos, torres, fusíveis, tudo o que é necessário para permitir levar a rádio até à nossa casa, ao nosso carro, através das ondas Hertzianas. Estavamos a conversar e eu "despachei" discretamente o assunto para um outro dia, uma vez que ainda tinha emissão no ar! E fui, acreditando de facto que numa próxima oportunidade poderíamos continuar a nossa conversa.

Hoje, ao chegar à rádio recebi a notícia que o Engenheiro morreu. Causa: cancro.


E hoje foi mais um dia, daqueles em que só consegui sentir com clareza a fugacidade da vida porque morreu alguém. É horrível... e afinal, deixei uma conversa para um "depois" que nunca existirá!

E pergunto-me sempre que isto acontece: quantas visitas eu não deixei para um "mais tarde" que também nunca existirá? Quantas conversas? Quantos gestos? Quantos telefonemas? Quantas oportunidades de ser melhor?

Só não consigo entender como é possível não conseguir soltar-me destas amarras que me prendem, deste casulo que me sufoca: o comodismo. Morrer cedo é triste, mas acredito que ainda é mais triste não correr riscos para amar, fazer e ser melhor, tentar ultrapassar obstáculos para crescer mais forte... e estar. Estar sempre aí através de um telefonema, um mail, meia hora de conversa num café, uma visita. Estar presente de verdade para quem amamos. Seja curta ou mais longa a minha existência, morrerei muito triste mesmo se não for pelo menos recordada com carinho por quem amo, se não tiver sido útil em algum momento, se não tiver sido bem sucedida numa prova, se não tiver provocado o sorriso a alguém em lágrimas, se não tiver tido a oportunidade de ser um Ser maior do que sou.

O meu maior pecado: Não há pior veneno na minha vida que o hábito.

Odeio-o mas confesso: tornei-me numa profunda pecadora.
Shhhhh, escuta: Tic Tac, Tic Tac... Ah, é "só" o relógio.

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